quinta-feira, 19 de abril de 2018

Vamos à festa!



É bom inventar rituais para celebrar certas ocasiões. Fazê-lo é um dos ensinamentos que melhor nos podem ajudar. Todos podemos aprender a ser nobres, a manifestar um sentido de dignidade que possa encarnar em cada uma das nossas acções (…) É este o verdadeiro sentido da festa.[1]


O filósofo francês Fabrice Midal refere que segundo Nietzsche, “a festa é a maneira de aprovar a vida de forma incondicional, de ultrapassar o niilismo, o ressentimento e o ódio larvar que a tudo corrompe. Na festa, todas as angústias e as tristezas são reconhecidas, sem que tenhamos de as negar ou de as esquecer”. Compreendemos então que a festa é uma vivência profunda do real, sendo o contrário de uma fuga ou explosão de divertimentos escapistas. 

O autor continua, sobre sua citação de Nietzsche, que na Grécia Antiga “dedicavam-se, a uma espécie de festa a todas as suas paixões e a todas as suas pérfidas inclinações, e que tinham mesmo instituído, por intermédio do Estado, uma espécie de regulamentação para celebrar aquilo que para eles era demasiado humano. Isto era tido como algo inevitável e preferiam em vês de o injuriar, atribuir-lhe uma espécie de direito de segunda ordem, introduzindo-o nos hábitos da sociedade e do culto”.[2]

No desenrolar de uma festa e de um ritual percebemos uma variedade de manifestações criativas e artísticas, como a introdução de músicas, ornamentos e enfeites, roupas, cores, danças, alimentos, cheiros, versos e rezas. A envolvência nesses elementos leva-nos a vivenciar uma enxurrada emoções!

"Este é o verdadeiro sentido da festa!"[3]

Na festa não nos perdemos, nos encontramos. Entramos pessoas, sentimentos, encontramos o melhor e o pior de nós próprios. Vestimos máscaras, tiramos máscaras. Midal refere que a festa não é uma fuga. A festa enquanto ritual concentra-nos no que nos faz mais sentido e numa vida estetizada, a partir de um ponto de vista poético, com nuances de cores, com formas que nos completam. Um encontro a uma gestalt do Eu, num sentimento de forma integrada, estabelecida pela capacidade de perceção diferenciada de si mesmo, ampliada e total. 

Um processo criativo é um ritual e uma festa, e é repleto de métodos que expressam aspectos de si mesmo. A espontaneidade também lá está, uma vez que através da festa abrimo-nos para uma experiência que muito se utiliza do imaginário e da criatividade. 

Criar é uma festa!



[1] Midal, F. (2010). Inventar a liberdade. Círculo de leitores. Lisboa. p. 92
[2] p. 94
[3] p. 93