quarta-feira, 6 de março de 2013

O desenho poético/narrativo das crianças (e de alguns adultos)



Que coisa linda e abençoada. Marc Chagall em seu estúdio, em 1955.
Este homem era muito especial. Adoro a poesia da sua pintura. Tão simples e tão preenchida de amor.


Crianças pequenas, eventualmente até entrarem para Primária (na maioria das vezes têm o curso da sua criatividade estragada pelo ensino formal, ou como diria o querido Eurico Gonçalves, "A escola estraga tudo!") quando desenham são capazes de narrar histórias, normalmente com início, meio e fim. Uma narrativa fantástica, divertiva, com os seus elementos preferidos, significativos, que fazem parte do seu mundo.
Ao criar essas histórias ilustradas, ou, ilustrações "historiadas", narradas, contadas, proseadas, constroem a sua poesia e organizam o seu mundo.
É encantador acompanhar esses desenhos narrados, declamados, "viajados".

Alguns anos depois, não muitos a frente, a tendência é a criança perder essa capacidade narrativa e imaginativa. Os desenhos passam a ser imagens muito concretas, daquelas que "fazem sentido", daquelas "que são reais". Porque de repente a fantasia é coisa para as crianças pequenas...e já se é crescido e isso já não faz mais parte...

É claro que as crianças crescem e mudam seus interesses, mas deveriam a ser estimuladas a não mudar o seu caminho criativo e não deixar de alimentar a sua imaginação. Mais a frente já nem sabem o que desenhar, precisam de modelos, protótipos, exemplos, querem fazer "bem feito"... E quando fazem bem feito é muito comum fazerem o desenho mais sem expressão e significado próprio possível. Aquilo é bem feito, faz todo o sentido, mas não significa emocionalmente nada para criança.

O que me emocionou nessa foto é que Marc Chagall não deixou de desenhar como essas crianças pequeninas que narram histórias e criam poesia com o seu mundo imaginativo. Não deixou ou voltou a desenhar como uma criança. Bom, eu já sabia disso. Mas essa foto, dentro do seu atelier, com uma tela sendo desenhada me deu uma sensação de poder penetrar um pouquinho nesse seu mundo tão sensível e poético, e relembrar que desenhar como uma criança pequena é tão fácil. E como elas são felizes quando desenham assim!



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