É bom inventar rituais para celebrar certas ocasiões. Fazê-lo é um dos
ensinamentos que melhor nos podem ajudar. Todos podemos aprender a ser nobres,
a manifestar um sentido de dignidade que possa encarnar em cada uma das nossas
acções (…) É este o verdadeiro sentido da festa.[1]
O filósofo francês Fabrice Midal refere que segundo Nietzsche, “a festa
é a maneira de aprovar a vida de forma incondicional, de ultrapassar o
niilismo, o ressentimento e o ódio larvar que a tudo corrompe. Na festa, todas
as angústias e as tristezas são reconhecidas, sem que tenhamos de as negar ou
de as esquecer”. Compreendemos então que a festa é uma vivência
profunda do real, sendo o contrário de uma fuga ou explosão de divertimentos
escapistas.
O autor continua, sobre sua citação de Nietzsche, que na Grécia Antiga “dedicavam-se,
a uma espécie de festa a todas as suas paixões e a todas as
suas pérfidas inclinações, e que tinham mesmo instituído, por
intermédio do Estado, uma espécie de regulamentação para celebrar aquilo que
para eles era demasiado humano. Isto era tido como algo inevitável e preferiam
em vês de o injuriar, atribuir-lhe uma espécie de direito de segunda ordem,
introduzindo-o nos hábitos da sociedade e do culto”.[2]
No desenrolar de uma festa e de um ritual percebemos uma variedade de
manifestações criativas e artísticas, como a introdução de músicas, ornamentos
e enfeites, roupas, cores, danças, alimentos, cheiros, versos e rezas.
A envolvência nesses elementos leva-nos a
vivenciar uma enxurrada emoções!
"Este é o verdadeiro sentido da festa!"[3]
Na festa não nos perdemos, nos encontramos. Entramos pessoas, sentimentos,
encontramos o melhor e o pior de nós próprios. Vestimos máscaras, tiramos
máscaras. Midal refere que a festa não é uma fuga. A festa enquanto ritual concentra-nos no que nos faz mais sentido e numa vida estetizada, a
partir de um ponto de vista poético, com nuances de cores, com formas que nos
completam. Um encontro a uma gestalt do Eu, num sentimento de forma
integrada, estabelecida pela capacidade de perceção diferenciada de si
mesmo, ampliada e total.
Um processo criativo é um ritual e uma festa, e é repleto
de métodos que expressam aspectos de si mesmo. A espontaneidade também lá está,
uma vez que através da festa abrimo-nos para uma experiência que muito se
utiliza do imaginário e da criatividade.
Criar é uma festa!